Il. de Márcia Cardeal
Miro
– Valdomiro Silveira – é dono de uma
fábrica de miniaturas, feitas com latinhas recicláveis. A fábrica toda cabe em
duas caixas, que o menino guarda embaixo da cama. Inventar as miniaturas, a partir das latinhas, é uma grande
felicidade para Miro. Ele é capaz de
passar horas trabalhando nas peças para deixá-las irretocáveis.
Num
segundo movimento de criação, ele
promove o encantamento das
miniaturas. Com o sopro da imaginação, anima os objetos criados e lhes imprime
vida própria. De posse dessa vida poética, as
miniaturas conversam e tramam histórias sobre si mesmas e sobre seu
criador.
Há
um bule que já morou no fundo do mar, um jarro que vivia bordado em uma
cortina, uma concha que foi um
pensamento do Miro que caiu no mar e virou concha, uma mala que
pertenceu a um colecionador de sombras, a um pesquisador de suspiros de jardim,
a um capturador e assoprador de
palavras, dentre outros donos ( a mala só não carregou roupas).
Na
hora em que Miro enfrenta a perda do pai, em um naufrágio no alto-mar, as
miniaturas participam como coadjuvantes simbólicas na elaboração do sofrimento
e da saudade do menino.
As
conversas entre as miniaturas sempre são interrompidas pelo grito da realidade
que vem por meio da mãe, chamando-o para
as lidas do cotidiano : “Mirooooo, desça, o café tá na mesa!” “Miroooo, venha
ajudar seu pai”... Miroooo, fiz queijadinha...” Mirooooo, teus amigos estão
aqui!”...
As
miniaturas são apenas uma parte das vivências mágicas do livro. Miro mora na
Rua Ametista, porém, a rua preferida dele
é a Âmbar.
A Âmbar tem as frutas mais doces do bairro, a
casa assombrada onde moram a tainha, a cobra que passa a vida se transfomando
em “outros” para fazer a experiência da outridade, a formiga que queria cantar
como uma cigarra, a rã que queria namorar um cachorro, e a bruxa da costa esmeralda – uma bruxa
diferente e no exercício pleno de sua
bruxidade. Também ficam na Âmbar a casa 109, dos amigos Quin, Isa e Matita,
e a casa creme da moça que ajudou Miro a
se alfabetizar.
Rua
Âmbar é uma história de pertencimento e memória. Miro poderá se mudar de Mariscal, um dia, mas
levará a Âmbar para onde for. Será sempre o chão sagrado que ele vai pisar para
sempre, “pois levamos as
ruas, as casas, as paisagens de nossa infância para onde quer que formos”.
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